Todos de olho no aquário14.04.15
Conhecer esse ecossistema leva a entender as relações de dependência entre os seres vivos
Um aquário malcuidado, nas dependências da EMEB Octávio Edgard de Oliveira, em São Bernardo do Campo, região metropolitana de São Paulo, foi o ponto de partida para a garotada do 4º ano pesquisar sobre seres vivos. “O trabalho não se restringiu à questão de salvar o tanque da escola. Ele focou no conceito de sistema, com atividades para as crianças pensarem sobre como as coisas estão organizadas para garantir a vida dos peixes”, diz Luciana Hubner, consultora pedagógica da Abramundo. Essa abordagem é defendida pela pesquisadora argentina Ana Espinoza no livro Ciências na Escola – Novas Perspectivas para a Formação dos Alunos (168 págs., Ed. Ática, tel. 4003-3061, 31,50 reais). Ela enfatiza que os ecossistemas são compostos de uma rede complexa de relações. “Um sistema não é apenas um conjunto de elementos, mas, sim, uma distribuição particular destes que permite a criação de interações específicas.”
Inicialmente, o professor Roberto Leandro dos Santos propôs a observação do tanque. A garotada o desenhou, além de fazer uma lista dos itens vistos ali: água suja, apenas um peixe, cascalho e alguns objetos de decoração. Depois, as crianças estudaram sobre a água – que consideraram ser a casa natural dos peixes – e seu ciclo por meio de um livro didático e de um vídeo. Todas se surpreenderam ao concluir que a água do planeta é sempre a mesma.
O educador, então, voltou a atenção da classe para o aquário. O grupo recolheu uma amostra da água e a observou. “Ela era turva, tinha cheiro e provavelmente gosto”, diz Santos. Várias hipóteses surgiram: “Essa cor deve ser por causa do xixi do peixe”, disse Gabriela Aparecida Fernandes da Cruz, 9 anos. Os alunos lembraram, de acordo com o que viram sobre o ciclo da água, que nos rios e mares ela está em constante movimento, no tanque, não. “Eles concluíram que os peixes produzem sujeira, que na natureza é limpa por outros animais. O aquário deve ser mantido por alguém”, diz Santos.
O docente comentou, então, que toda água tem propriedades, como nível de acidez e temperatura, que podem ser medidas. Ele recolheu amostras da água do aquário e da torneira da escola e, com material apropriado (à venda em casas especializadas), checou as duas características, além do nível de amônia e de cloro. Depois, todos pesquisaram na internet sobre o habitat dos peixes. Descobriram que as características da água determinam as espécies que podem viver nela. “Destaquei que esses indicadores mudam e nem todos os peixes conseguem viver no mar ou no rio, por exemplo.”
Santos levou um aluno de Biologia da Universidade de São Paulo (USP) para conversar com a meninada. O convidado trouxe um peixe já morto para explicar a função de cada parte de seu organismo. Assim, todos observaram que o animal respira embaixo dágua por meio das brânquias.
As crianças também pesquisaram na internet sobre tipos de aquário. Santos aproveitou esses momentos para ajudá-las a usar as ferramentas de busca, orientando sobre as palavras-chave e a comparação de resultados. Com a prática, elas foram criando uma lista de sites confiáveis.
Hora de montar o tanque
Depois da investigação, a turma gostou dos peixes de água doce. O professor explicou que era preciso descobrir quais são as condições da água em que vivem, para tentar reproduzi-las. Todos fizeram uma tabela no quadro com as espécies escolhidas e as condições de vida de cada uma delas. Assim, puderam definir as características da água do aquário e selecionar os animais. Os estudantes também adicionaram à lista exemplares que fazem a limpeza desses ambientes. “Essa etapa foi fundamental para que a turma entendesse a importância de conhecer bem o ecossistema e evitar a compra de peixes que poderiam morrer num meio com condições impróprias”, explica Santos. O antigo morador do tanque, de uma espécie com características incompatíveis com as dos escolhidos, foi doado.
Para reproduzir o fundo de um rio, os alunos escolheram pedras, plantas e o cascalho de água doce. Surgiram muitas dúvidas: “Qualquer planta pode ser colocada num aquário? Como elas respiram embaixo dágua? Elas têm brânquias, como os peixes?”. A classe levantou algumas hipóteses e foi pesquisar mais, pois não sabia como era a respiração e a nutrição dos vegetais. Um dos alunos, então, referiu-se à fotossíntese, e Santos pediu que todos buscassem informações sobre o tema. De volta à classe, tudo foi sistematizado pelo professor. Para ajudar os estudantes a concluir como a planta puxa água do solo, Santos fez duas experiências: colocou rolos de papel mergulhados num copo dágua e crisântemos brancos em vasos com água colorida.
Todos voltaram ao laboratório de informática para pesquisar as espécies de plantas aquáticas mais adequadas para o ecossistema que estavam criando. O processo se assemelhou ao realizado na hora de escolher os peixes: os resultados foram levados à sala de aula e as informações, registradas em forma de tabela no quadro. “Se a planta precisa de luz para se alimentar e dar oxigênio para os peixes, então o aquário também vai precisar de iluminação”, sugeriu Mary Victoria Araújo Evaristo Luna, 9 anos.
A turma colocou a vegetação e a decoração no aquário e, depois, a água, que foi estabilizada. Por fim, entraram os animais. Paralelamente à pesquisa e à montagem, a garotada produziu fichas informativas sobre as espécie usadas, assim como explicações sobre o aquário. Os textos vinham acompanhados de fotografias das crianças fazendo a linguagem de sinais – um dos estudantes, surdo, tinha intérprete e era acompanhado pelo professor do Atendimento Educacional Especializado (AEE), que antecipava os assuntos que seriam debatidos nas aulas seguintes.
Ao fim do projeto, com o aquário revitalizado, os estudantes comemoraram: a escola tinha ganho um bonito ambiente e eles tinham aprendido muita coisa sobre ecossistemas.
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